A manhã foi cálida, luminosa e vibrante. A tarde despertou encoberta. Vestiu-se com tons de cinza e lavou-se com uma fina chuva. Lá longe, espaçados, ouviam-se os rugidos da trovoada. Depois de uma manhã electrizante, a tarde inclinou-se para a melancolia. Sinto que estou no limbo. Aliás, estou em crer que este estado de espírito só se combate com uma melancolia electrizante.
Mês: junho 2024
Incipit
Que a música seja apenas uma vaga alusão a ideias que já tenho e gostaria de ter de novo.
Karl Kraus, O Apocalipse Estável: Aforismos, 2015, p. 63
Embora ainda num estado embrionário, hoje, torno público este espaço de auto-descoberta, qual semente adormecida na terra humedecida. Mesmo ainda sendo um feijão, o ensejo é que vire uma árvore imponente de frutos ridentes.
Neste primeiro arranque da sementeira, o blogue não propõe partilhar grandes apontamentos ou densas reflexões. Não foi criado para aborrecer, mas sobretudo para entreter, espicaçar sensações e partilhar inquietações.
Nada melhor do que começar com música para que o caminho comece desprendido da realidade. De todas as artes, esta é a mais misteriosa e a que mais nos interroga. Não será a música o resultado de confabulações vagabundas?

A música é assim: pergunta, insiste na demorada interrogação // (…) como se nada dissesse vai afinal dizendo tudo.
Eugénio de Andrade, É Assim a música, em “Os lugares do Lume”
A música, porventura, é essa energia alada que nos estremece o corpo e desperta as emoções. Sonoridades e cadências que abrem baús de fragâncias rítmicas.
Deixe-se envolver na musicalidade de James Blake.